Psicologia Desportiva

(O QUE É? / QUANDO SURGIU?)


Definir o conceito de «psicologia do desporto» não é tarefa fácil e mais complicado ainda tentar perceber os efeitos e o que está por detrás dela. Porém, parece-nos importante apresentar aqui um dos possíveis entendimentos deste conceito, uma vez que os seus efeitos estão à vista de todos sendo os psicólogos do desporto cada vez mais requisitados. Todavia, começaremos no entanto, por referir que “Psicologia é o ramo da ciência que estuda os fenómenos da mente, na sua origem, desenvolvimento e manifestações”.

É pois nesta perspectiva que entendemos a psicologia do desporto, isto é, uma área da psicologia, estabelecida em função de uma actividade que vai estudar o comportamento dos indivíduos em situação de prática desportiva bem como todos os fenómenos da vida inconsciente que a ela se podem associar. O objectivo desta psicologia aplicada é a partir da compreensão desses fenómenos conseguir intervir no sentido de optimizar o rendimento e o bem-estar físico e o envolvimento e equilíbrio psicológico das pessoas.

Sendo assim a psicologia do desporto procura conhecer e desmistificar processos psicológicos subjacentes à actividade física e desportiva. O titular que aplica as variadas técnicas e portanto chamados psicólogos do desporto intervêm junto dos clubes e das equipas desportivas como colectivo e dos colegas enquanto indivíduos, procurando sempre aspectos pessoais e biológicos para assim conseguir aperfeiçoamento no que vai fazer na actividade física. Os atletas não são os únicos visados, também os restantes membros que constituem uma equipa, desde os massagistas, médicos e treinadores também são aconselhados, portanto o papel do psicólogo do desporto é importante nestes aspectos de competição desportiva.

Com tanta tarefa pode-se definir que o psicólogo do desporto não se interessa apenas por intervir nos processos que directamente estejam relacionados com a participação em eventos desportivos. Mas sim em todo o conjunto de movimentações feitas por um atleta desde a sua vida pessoal até à sua participação no espaço desportivo. A gestão da ansiedade, da angústia, do relaxamento, da concentração, as questões da comunicação, da dinâmica de grupos, resolução de conflitos, gerência do stress, esgotamentos bem como ajuda a resolver problemas de crise desportiva fazem parte da sua intervenção. Comparativamente com os restantes países da Europa e da América do Norte, podemos considerar que a Psicologia do Desporto em Portugal surgiu mais tarde. Podemos mesmo situar a sua origem no ano de 1940, com o aparecimento do então Instituto Nacional de Educação Física (actual Faculdade de Motricidade Humana).

O objectivo da Psicologia desportiva

A Psicologia desportiva é uma disciplina científica que se dirige para a aplicação de técnicas e princípios psicológicos no sentido da promoção e optimização do rendimento e do bem-estar em contexto desportivo de atletas e demais agentes desportivos.

Poderá identificar-se dois objectivos primordiais: compreender como os factores psicológicos afectam o rendimento físico dos indivíduos; e compreender como o exercício e a participação desportiva afectam o desenvolvimento, a saúde e o bem-estar psicológico dos indivíduos.

Ora, a partir dos objectivos transcritos, algumas ideias estabelecidas acerca da intervenção da psicologia do desporto, concretamente, que era somente destinada ao desporto de Alto Rendimento, poderão ser agora dissipadas. Até porque, os desportistas de Alto Rendimento explicam somente 2% da população que pratica desporto a nível mundial.

Os âmbitos e contextos de prática e intervenção vão muito além do desporto de alto nível, ou seja, passam pelo desporto de crianças e jovens, pelo desporto de alto rendimento, pelo desporto e actividade física de recreação e lazer, pelo desporto e actividade física de pessoas com necessidades especiais, exercício e saúde, etc. As pessoas que podem ser alvo de intervenção poderão provir dos mais variados contextos do desporto e actividade física, tais como, atletas, treinadores, dirigentes, árbitros, e os pais das crianças e jovens atletas. Estas populações têm, obviamente, características e necessidades próprias, e que a psicologia desportiva direcciona a intervenção também especifica para cada um destes indivíduos.

Em que situações os psicólogos desportivos actuam?

Muitas vezes o que mantém o atleta activo no seu desporto, são esforços naturais, consequências do desempenho da modalidade desportiva.

Um exemplo é quando o atleta treina para obter a atenção da família, do treinador e a actividade desportiva em si, não é reforçada. Para esse atleta não adianta trabalhar somente com técnicas para a melhoria do desempenho, mas sim mostrar que há outras maneiras de se obter a atenção, talvez através de outro desporto que lhe desse prazer.

É imprescindível que o atleta aprenda a identificar as condições que mantêm o seu comportamento, assim ele poderá ter mais convicção e comprometer-se mais com o desporto. É este compromisso que permitirá o trabalho com as técnicas para a melhoria do rendimento.

Os psicólogos do desporto actuam em duas áreas básicas, sendo elas os aspectos psicológicos a afectarem o desempenho desportivo e a actividade física a afectar os estados psicológicos. Dentro disso encontra-se algumas subáreas predominantes como por exemplo: características psicológicas do atleta, aspectos cognitivos, sociais, motivacionais, técnicas para trabalhar com desportistas, a prática desportiva no ciclo da vida, as relações entre desporto e saúde, psicometria, socialização, informação, atenção, liderança.

A intervenção psicológica ao nível do exercício visa, assim, promover o bem-estar do praticante, aumentar a sua auto-estima, recuperar o desempenho inferior às capacidades, recuperar a atenção e concentração, reduzir a ansiedade, a preocupação a depressão relativa à competição em que se encontra, ajudar a resolver os problemas com as lesões e problemas pessoais, promover o desenvolvimento global e harmonioso do indivíduo, estudando as repercussões psicológicas das diferentes práticas e aconselhando as condições em que ela deve ocorrer.

É todo um campo ainda pouco explorado, mas já com alguma investigação científica e que promete ser um largo espaço de aplicação profissional.


Importância da Psicologia desportiva

Alguém que já participou em algum tipo de competição com certeza já sentiu aquele "frio na barriga", ou aquela ansiedade de tirar o sono na véspera da disputa. Outro problema frequente seria como fazer para separar a nossa vida pessoal da profissional. Será que tudo isto não está relacionado com a importância da concentração antes e durante a competição? Além disso, quem pratica desporto infelizmente muitas vezes está sujeito a lesionar-se. Imagine como é ter que interromper uma actividade que para nós é tão importante, e pior, para alguns, quando este é o principal meio de sobrevivência...

Para se obter um desempenho mais adequado, o treino desportivo deve ser direccionado não só aos factores motores, físicos e técnicos, mas também aos aspectos psicológicos e cognitivos. Baseado nisso pode-se concluir que não se deve deixar o lado humano do atleta de lado, e construir o atleta por completo aumentando o seu desempenho com o apoio da psicologia desportiva.

O psicólogo desportivo, para o atleta chegar ao seu alto momento de forma, tem como objectivo que ele tanto nos treinos como nos jogos tenha um rendimento sem esforço, um desempenho automático, uma elevada certeza nas suas capacidades uma percepção de abrandamento do tempo, se sinta fisicamente e mentalmente relaxado, a sua concentração e atenção seja ampliada, tenha uma elevada confiança e optimismo, níveis elevados de energia e uma maior percepção de completo controlo.


A importância da ansiedade e o rendimento

O estudo da relação entre ansiedade e rendimento e a identificação dos factores psicológicos que contribuem para o fracasso ou para o sucesso são da maior importância. As diferenças de personalidade entre os atletas, como resultado por exemplo, do posicionamento táctico que ocupam numa equipa, pelo facto de serem guarda-redes, defesas, médios ou avançados, representaram um dos temas de maior discussão.


Relação entre ansiedade e rendimento

Qualquer evento desportivo que implique uma situação de avaliação desperta um conjunto de emoções. Por exemplo, a activação é um estado que afecta o sistema nervoso, originando respostas autonómicas que influenciam o comportamento.

Quando aumenta a activação, também aumenta o rendimento até certo ponto, a activação continua a aumentar e o rendimento diminui: existe assim uma altura óptima para obter o máximo rendimento.

Existe no entanto outros factores que influenciam o nível de activação: os dependentes da personalidade (ansiedade), a competência na tarefa que está a realizar, a forma física e a experiência prévia na actividade desportiva em geral e na actividade que está a realizar em concreto. Outro aspecto importante é o das cognições que atleta tem em relação às exigências que lhe são feitas pelos colegas de equipa, treinador, amigos, família e público.


Quanto maiores forem as exigências, maior será o nível de activação.

Outros factores são a capacidade de gerar respostas rápidas e adequadas. Ultimo factor que pode influenciar o nível de activação é a dificuldade da tarefa.

Todos estes factores gerem estados de activação que se reflectem em resposta autonómica característica do stress. Quando aumenta a activação aumenta o rendimento até cero ponto, mas depois a activação continua a aumentar e o rendimento diminui: assim sendo existe uma altura óptima para obter o máximo rendimento, zona de funcionamento óptimo.


Relação treinador atleta

Na sequência de vários estudos realizados a atletas, verifica-se que, no âmbito das suas relações com os treinadores, a variação do entusiasmo e do humor dos técnicos durante os treinos é a realidade que mais perturba a dinâmica do grupo.


A debilidade emocional e as exigências desportivas

A maturidade desportiva não está desligada da formação da personalidade do atleta enquanto criança e adolescente.

As modalidades de alto rendimento implicam uma longa preparação psicológica, visando uma correcta constituição emotiva.

A debilidade emocional nos jovens desportistas que rapidamente ascendem a um elevado nível de exigência técnica é um dos aspectos que melhor importa conhecer e apoiar.


Efeitos dos choques emotivos

A repetição não controlada dos chamados “choques emotivos” poderá determinar um desequilíbrio emocional acentuado, em que exibicionismo, a irritabilidade, a impulsividade, a recusa ou a rebeldia em aceitar prontamente as instruções dos técnicos, ou a maior facilidade para contrair lesões inexplicáveis, são apenas manifestações inicias, de um somatório infindável de medos e preocupações.



A força do stress competitivo

O stress competitivo, resultante do trabalho diário permanente, impõe cuidados médicos e psicológicos adicionais, caracterizando uma actividade clínica, cujo controlo só tem paralelo na avaliação e seguimento de atletas de alto nível, em termos individuais.


Algumas das recomendações dos psicólogos para lidar com lesões:

Recomendações para atletas:
-Aceitar de forma positiva a situação
-Focar na qualidade do treino
-Procurar e usar os recursos de assistência médica
-Usar os apoios sociais sempre que necessário
-Estabelecer objectivos
-Confiar nos técnicos de saúde
-Trabalhar no treino de competências mentais

Recomendações para treinadores:
-Manter o contacto com o atleta
-Demonstrar empatia e apoio positivo
-Compreender as diferenças individuais nas lesões e nas emoções às lesões
-Motivar encorajando adequadamente
-Estabelecer um treino individualizado, focando a qualidade
-Ter paciência e expectativas realistas
-Não focar repetidamente a lesão no treino



Psicologia desportiva nos árbitros

Infelizmente os árbitros são uma das populações mais esquecidas no domínio da psicologia do desporto, quer na investigação quer no desenvolvimento e implementação de estratégias de treino mental.

Ser árbitro implica estar sempre sujeito a uma avaliação formal no desempenho com consequências não despiciendas na sua progressão na carreira, mas também a avaliações informais realizadas muitas vezes por quem não tem competência para o fazer (adeptos ou dirigentes, por exemplo)

O grau de subjectividade mais influentes numas modalidades que noutras, é um obstáculo para o desempenho dos árbitros. Também a nível do recrutamento será necessário intervir, pois em muitas modalidades luta-se com a falta de árbitros quer porque existem dificuldades no seu recrutamento quer porque muitos desistem nos primeiros tempos de actividade, não aguentando com a pressão, as exigências e as dificuldades associadas à função de árbitro. Outros dos problemas são as limitações inerentes às características dos seres humanos para julgar determinadas acções sobretudo os mais complexos


Consulta com um psicólogo desportivo

O processo de avaliação psicológica do desporto é conhecido como psicodiagnóstico (procedimento científico que necessariamente utiliza testes psicológicos) desportivo e está relacionado directamente com o levantamento de aspectos particulares do atleta ou da relação com a modalidade escolhida. As investigações de carácter diagnóstico, têm como objectivo determinar o nível de desenvolvimento de funções e capacidades no atleta com a finalidade de diagnosticar os resultados desportivos. No desporto de alto rendimento, o psicodiagnóstico está orientado para a avaliação de características de personalidade do atleta, para o nível de processos psíquicos, os estados emocionais em situação de treino e competição e as relações interpessoais. Com o resultado do diagnóstico pode-se chegar a conclusões referentes a algumas particularidades pessoais ou em grupo que oferecem subsídios para se fazer uma selecção de novos atletas para uma equipas, para mudar o processo de treino, individualizar a preparação técnico-táctico, escolher a estratégia e a táctica de conduta numa competição e optimizar os estados psíquicos.

Os métodos utilizados para esse fim podem ser tanto da categoria de análise de particularidades de processos psíquicos nos quais se enquadram os processos sensoriais, de pensamento e mecânicos bem como os de ordem psicossociais nos quais são estudadas as particularidades psicológicas de um grupo desportivo, buscando revelar e explicar a sua dinâmica.